move

"Quando lhes mostro as coisas que via na minha adolescência, emocionam-se e querem saber o que aconteceu a seguir. Nada. Como, nada? Ora, o propósito era só arrebatar, povoar-nos a cabeça de sonhos, empurrar-nos para fora de casa, fazer-nos pensar que o mundo estava mesmo a contar connosco para a grande transformação. E estava? Não. Então foram enganados? Naturalmente que sim, todas as gerações são, mas ao menos não esperávamos pelo destino sentados no sofá."
maepreocupada.blogspot.com

[continuação da série "blogues que não são sobre dicas de maquilhagem"]
na rentrée (agora sim, já se sente o cheiro a livros novos, a agitação que imprime um bom ritmo nos afazeres do quotidiano):

a nova tasca de um dos meus blogueiros preferidos:
"Não se trata de andar contente ou triste. Ele há malta que anda contente em jornadas vingativas e outra que anda triste porque que pesa cem gramas a mais. Trata-se de ter a inteligência de compreender que o que temos de bom em cada instante é um prazer fragilíssimo, sobretudo, de aceitar que quase nada nos pertence: o aluguer é renovado todo os dias." — insanid.blogspot.com

o novo álbum dos rapazes que fazem umas coisas bem porreiras com a electrónica:




[juntar as duas coisas é apenas uma coincidência das novidades do dia. não espero que amanhã aconteça o mesmo, mas a acontecer aproveitarei, eh eh eh]

sismoslogismos lógicos

— sismo sentido em todo o país
— vivo nesse país e não senti nada
— logo, sou insensível

desabafo

a vida corre bem. quase tudo bem. um quase que não é trágico, é apenas a minha vida a ser extremamente comum e o faltar sempre qualquer coisa ser o normal das vidas.

***

[dêem-me uns dias sozinha e garanto que afundo. nada de novo, portanto]

desafio

ouvir esta música e não sentir um ligeiro nó na garganta — mesmo que a vida esteja naquela coisa do corre bem (corre?).


quarta-feira, 22 de agosto. é importante referir o dia da semana e não apenas a data, servindo de dose dupla de choque para o regresso a qualquer coisa que se tornou mais pequena: a minha rotina, o meu trabalho, deixaram de ser tão grandemente terapêuticos. mantém-se a necessidade financeira, bem como o gosto destas coisas do design mas a minha vida está mais cheia — de tão bom, que troquei a equação: mais é menos. mais completa, menos complicada.

ainda sob esse choque de regresso ao trabalho a meio da semana, com tudo em férias e sem conseguir sentir o cheiro habitual da rentrée: falta o outono, o cheiro a livros novos, a ânsia dos primeiros dias de escola das miúdas, a esplanada ao fim do dia com o gangue todo a dizermos disparates.

recorro a um método com anos de método científico aplicado e estatística a provar a eficácia: música a bombar e aguardo, sabendo que mais hora menos hora os neurónios estarão a bom ritmo para terminar este dia com trabalho feito.


poderiam ser percas, que o peixe saberia bem melhor


as previsões indicam que a partir de amanhã as temperatura podem chegar aos 45º. o que são mais 15º do máximo suportável pela minha pessoa. já verifiquei se o ac da sala ainda funciona e tenho minis no frigorífico. ou seja, tenho planos para sobreviver aos 15º acima do suportável.

não tenho é planos para sobreviver às perdas constantes. com o tempo verifica-se que a vida é mesmo uma sucessão de perdas e deixar de ter planos para o suportar é o grande passo evolutivo. aceitar e resistir aos falhanços, às frustrações, ao que não controlamos, ao que desejamos e que se dilui, às pessoas vivas que perdemos (impossível falar das outras) e, ainda assim, aquela hora na esplanada ao fim do dia com os amigos, o jantar com as nossas filhas, o beijo temporário que nos tira o fôlego, a caminhada sozinha e o perder-me em ruas que julgava conhecer, ser o melhor que a vida tem. por hoje. amanhã, logo se vê. em todo o caso tenho minis no frigorífico.


se beber, não choro?

o primeiro livro que tenho memória de ter lido era acerca de um mocho que recolhia as suas lágrimas para fazer um chá. para tal, rebuscava nas suas recordações situações tristes para provocar o choro. pois sim, e é o mocho símbolo de sabedoria... não lembro como terminava, mas suspeito que tenho ficado envenenado depois de beber o chá.

desses tempos (em que era chic e lia em francês com mais fluência do que em português) ainda recordo outro: La Sœur de Gribouille. tanto drama que não sei como não cortei os pulsos. bonito, bonito, é o que o reli várias vezes.

de facto, agora os tempos são outros, o existencialismo duro é mercantilizado criativamente e à mão de rodar uma tampa. fast suffering?


higiene emocional

[os conteúdos que se seguem podem ferir a sensibilidade dos leitores] 


To love at all is to be vulnerable. Love anything and your heart will be wrung and possibly broken. If you want to make sure of keeping it intact you must give it to no one, not even an animal. Wrap it carefully round with hobbies and little luxuries; avoid all entanglements. Lock it up safe in the casket or coffin of your selfishness. But in that casket, safe, dark, motionless, airless, it will change. It will not be broken; it will become unbreakable, impenetrable, irredeemable. To love is to be vulnerable.
― C.S. Lewis, The Four Loves