pode ser visto como ter muita sorte, isto de não precisar que aconteça algo de especial para me ditar o humor. na realidade pode ser um inferno. da realidade não sei bem o que ando a fazer. a família anda com um nó na garganta, esperando heroicamente que este não expluda. a minha sobrinha ainda na sua luta (às vezes encosta-me a um canto com a força que tem demonstrado), as minha filhas em demasiada tensão (que ainda não têm maturidade para gerir e soltam-na como podem. com mais trinta anos do que elas, às vezes, faço o mesmo... ), o meu pai a pouco tempo de fazer uma cirurgia delicada e a envelhecer brutalmente a cada dia que passa (fiz as pazes com ele e preciso que esteja por cá mais um tempito).

escrevi meia dúzia de linhas (mentira, na verdade foram quilómetros de palavras) e volto onde me sinto melhor: aquele cantinho all alone, o meu safe room onde ninguém pode entrar. não quero. fora dele está tudo demasiado agitado.

And once the storm is over, you won’t remember how you made it through, how you managed to survive. You won’t even be sure, whether the storm is really over. But one thing is certain. When you come out of the storm, you won’t be the same person who walked in. That’s what this storm’s all about.
— Haruki Murakami

(certo, mas era escusado terem decapitado as árvores onde habitualmente me abrigo)

fronteiras

"(..) A primeira tendência do cosmopolita é rejeitar as fronteiras. Ler, é, por definição, um acto de cosmopolitismo. Quero ser outro quando leio. Anseio por essa metamorfose - ser outras personagens, outros lugares, outros sentimentos. Eis uns dos paradoxos admiráveis da literatura: sou mais eu sendo outro. (..) Vivemos num mundo repleto de fronteira, por boas e más razões. Aquelas que vemos e as invisíveis. Estão por todo o lado. Umas queremos transpor, outras que nos preservam e conferem identidade."
— Carlos Vaz Marques



o Xilre que me perdoe

(estou sempre a roubar-lhe textos)

xilre.blogspot.pt/2018/05/as-vidas-perfeitas


[ não sei porquê mas estou a ver se consigo chorar. por vezes, sou assustadoramente desequilibrada ]

não ouvi uma única música da eurovisão. nem sequer a portuguesa. sobrevivi aos quinhentos mil posts das redes sociais online sem ter qualquer curiosidade em clicar.

por outro lado, andei com isto aos berros:



e continuo. tenho a secreta esperança que me expulsem do openspace onde se ouve demasiado da vida dos outros e me chutem para um gabinete all alone.
Alper Yesiltas fotografou, ao longo de doze anos, uma janela em frente à sua casa. o resultado é um muito bonito projecto: "Story Of An Unknown Window". cada fotografia em si pode ser já uma história (das cores, do enquadramento, das luzes e das sombras), criar-lhe narrativa no seu conjunto é querer criar memórias. esta é a "minha" sequência (a quarta é uma desconstrução, não sabendo o que irá surgir no seu lugar).





www.instagram.com/alperyesiltas/

fui tentar outro livro. também não resultou lá muito bem.

"Juntamos duas pessoas que ainda não se tinham juntado. Às vezes é como a primeira tentativa para prender um balão de hidrogénio a um balão de fogo: preferimos que se despenha e arda ou que arda e se despenha? Mas às vezes resulta, e algo de novo se faz e o mundo transforma-se. Então, a dada altura, mais cedo ou mais tarde, por esta ou aquela razão, um deles é levado. E aquilo que é levado é maior do que a soma que lá estava. Isto pode não ser matematicamente possível; mas é emocionalmente possível."
— Julian Barnes, Os Níveis da Vida
vi o último episódio de Homeland e fiquei assustada. depois fui ver o Annihilation e fiquei assustada. continuei a ler o livro Nunca Me Deixes e parei, porque fiquei assustada.

de uma maneira ou de outra parece que acabaremos sempre todos fodidos.

now live




This is where
This is where the bottle lands
Where all the biggest questions meet
With little feet stood in the sand
And this is where
The echoes swell to nothing on the tide
And where a tiny pair of hands
Finds a sea-worn piece of glass
And sets it as a sapphire in her mind
And there she stands
Throwing both her arms around the world
The world that doesn't even know
How much it needs this little girl
It's all gonna be magnificent, she says
It's all gonna be magnificent