bestial humanidade
primeiro andei a namorá-lo pela net. nos últimos dias tive oportunidade de lhe pôr os olhos em cima, ao vivo. ontem veio parar-me às mãos. só hoje terei oportunidade de o começar a ler. antes disso um desejo enorme que a imaginação esteja em máxima potência e que assim não encontre na sua leitura paralelo com a realidade.
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Bestiário Lusitano, Alberto Pimenta / Ed. O Homem do Saco, Momo |
apanhei uma molha de ficar com as calças, o casaco e a mochila ensopadas. soube-me bem a chuva. soube-me menos o frio com que fiquei. caí no erro de acender a lareira mal cheguei a casa. sentei-me no sofá e liguei a caixa de música. agora não há força que me tire deste conforto, ainda que com tanto a fazer. afazeres que se esbatem na preguiça com um qb de nostalgia. o romantismo do outono com a sua chuva e frio quebrados pelo lume e o som dos seus estalidos.
uso o sarcasmo publicamente para combater ilusões muito privadas, com os quais ainda tenho pouco controlo, apesar das lições. um hiato assustador entre a razão e a emoção, que continuo sem entender. como pode haver tanto desfasamento entre ambas quando pertencem ao mesmo? estou a pouco mais de um par de meses de fazer quarenta e um anos. passei a marca dos quarenta sem a sensação de barreiras, até agora. sinto o meu corpo a envelhecer. se como mais de duas fatias de queijo fico com azia. emagrecer é cada vez mais difícil, ainda que a motivação agora seja mais crucial por ser mais uma questão de saúde e menos de aspecto. não posso virar a cabeça muito rápido que fico com vertigens, daquelas que chegam às náuseas. perdi a vontade de concretizar sonhos, já estão quase todos no lixo de uma leve memória. levo, agora, a minha vida a gritar que só quero paz. não de paragem, que para isso terei o caixão um dia, mas na simplicidade dos dias. os que passo com os amores da minha vida, as minhas filhas. as duas sentadas junto a mim no sofá ao fim do dia, a vermos um qualquer filme de animação, sem falarmos por palavras, com uma encostada no meu ombro e a outra a brincar com as minhas mãos nas dela. ou os fins de tarde onde o caminho de regresso a casa se faz com conversas de como foram preenchido os dias delas. o tempo com os meus amigos, daqueles em que estamos sem máscaras, onde se discute a Trampa do mundo, os super-heróis, o peso que algumas horas do dia tiveram... os abraços que chegam sem dizermos nada, olhando uns para os outros apenas. uma linguagem de conhecimento que adquirimos entre nós. a redenção do meu pai - sim, ainda está a tempo disso, por ele, por mim, pelas minha filhas. recordo-me dos poucos anos de real contacto com o meu avô materno que me marcaram para sempre, foi a melhor pessoa que conheci até hoje. em tempos convulsos amou puramente, sem nunca exigir retornos ou pedir ajuste de contas com histórias passadas.
devia ter feito parágrafos. não devia começar frases com verbos. devia ter mais cuidado com as vírgulas, mas who cares? importa-me que saiam as emoções, o conhecimento, um pouco de auto-análise reflectida. que a escrita me serene.
devia ter feito parágrafos. não devia começar frases com verbos. devia ter mais cuidado com as vírgulas, mas who cares? importa-me que saiam as emoções, o conhecimento, um pouco de auto-análise reflectida. que a escrita me serene.
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