Não Tenho Pressa [mentirinha]
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
— Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
— Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos
***
só ainda li umas dez páginas
e já lamento que o livro não seja meu para poder rabiscá-lo, sublinhar, anotar.
- Parece-me uma grande felicidade que, quando se olhe para o mundo, pareça sempre que é a primeira vez que o fazemos.
- É uma grande tristeza — disse ela a soluçar.
- É a maior infelicidade. Eu, quando olho para as coisas quero que elas me sejam familiares, como o meu tio e o meu marido, como o pão que se come às refeições. Quero deitar-me sempre com o mesmo homem, com os mesmos lábios. Quero que os lençóis de hoje me pareçam os lençóis de ontem, mesmo que os bordados sejam completamente diferentes. Não quero que os beijos que recebo sejam novos, quero que sejam velhos, quero que sejam os de sempre. Não me quero sobressaltar como quando era jovem. Uma pessoa só pode ter paz quando está ao pé das mesmas coisas, quando nem repara nelas, porque elas já fazem parte de si, como se as tivesse comido e mastigado e engolido e agora fossem carne da sua carne e sangue do seu sangue. Só somos felizes quando já não sentimos os sapatos nos pés.
— Afonso Cruz, O Pintor Debaixo do Lava-Loiças
- Parece-me uma grande felicidade que, quando se olhe para o mundo, pareça sempre que é a primeira vez que o fazemos.
- É uma grande tristeza — disse ela a soluçar.
- É a maior infelicidade. Eu, quando olho para as coisas quero que elas me sejam familiares, como o meu tio e o meu marido, como o pão que se come às refeições. Quero deitar-me sempre com o mesmo homem, com os mesmos lábios. Quero que os lençóis de hoje me pareçam os lençóis de ontem, mesmo que os bordados sejam completamente diferentes. Não quero que os beijos que recebo sejam novos, quero que sejam velhos, quero que sejam os de sempre. Não me quero sobressaltar como quando era jovem. Uma pessoa só pode ter paz quando está ao pé das mesmas coisas, quando nem repara nelas, porque elas já fazem parte de si, como se as tivesse comido e mastigado e engolido e agora fossem carne da sua carne e sangue do seu sangue. Só somos felizes quando já não sentimos os sapatos nos pés.
— Afonso Cruz, O Pintor Debaixo do Lava-Loiças
john, the cynic
You do this, and you'll get that
I want what I was promised, I'm a bit impatient
And what is it exactly that you think that you deserve
No more, no less, is that ridiculous
Cause what we got down here is oceans of longing
And guessing games, and no guarantees
And you work so hard to be in control
And now you're laughing at yourself because you can't let go
Cause all we're doing is learning how to die
Do you really think that nobody see's the fear behind your smile?
And why do you care what anybody thinks at all
It's all going to the same thing in the end
And what we got down here is oceans of longing
And guessing games, and no guarantees
And you work so hard to be in control
And now you're laughing at yourself because you can't let go
And what we got down here is oceans of longing
And guessing games, and no guarantees
And you work so hard to be in control
And now you're laughing at yourself because you can't let go
é daquelas coisas que nos faz pensar se deveríamos falar menos. isto porque corremos o risco de embrulharem tudo e nos oferecerem o nosso primeiro livro editado. lamento informar as duas pessoas que iam a correr para a caixa de comentários para encomendarem, que esta magnífica obra existirá apenas na forma de um exemplar.
para mais preciso de uma cadeira confortável, sol, gente que ouça, gente mais idiota do que eu, gente com gargalhadas sonoras e ... mais páginas virão :)
Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência e a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia.
***
Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também.
— Livro do Desassossego por Bernardo Soares
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factos:
sítios públicos com muita gente provocam-me mau estar. ir às compras é um suplício. gosto das tascas pequenas sem muita gente desconhecida mas podem estar muitos amigos à volta da mesa.
passo muito tempo na minha cabeça. sofro de frequentes cefaleias. ainda não sei se estão relacionadas.
aprecio o sossego. a solidão é outra história.
já a mim apeteceu-me ler mais
Embora nada daquilo tivesse a ver comigo, não conseguia deixar de imaginar como seria ser queimado vivo até à mais ínfima parcela do nosso corpo. Deve ser a pior coisa do mundo.
— via afacanaocortaofogo.blogspot.pt :)
— via afacanaocortaofogo.blogspot.pt :)
o dia em que quero tanto voltar a casa
é quase esquizofrénica a relação que tenho com a minha casa. mas hoje o querer muito ir, estar lá e desejar que as horas passem muito devagar.
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