sobre um certo foder

1. Os meritíssimos juízes, entre eles uma mulher, citam a Bíblia. Mas citam a Bíblia que lhes dá jeito, ou seja, o Velho Testamento, porque no Novo Testamento há aquela passagem subversiva em que Jesus perdoa a Maria Madalena e diz "quem não tiver pecado que atire a primeira pedra".

2. Nalgumas cabecinhas bafientas ao macho ibérico tudo é permitido. Nalgumas cabecinhas a mulher adúltera é uma puta, o homem um garanhão (o que leva alguém a trair alguém é complexo, a psiquiatria explica que há quem ame e traia e há quem não ame o companheiro ou companheira e não traía, mas isso é outro tema).

Alguns juízes não o deviam ser.

3. Há uns tempos escrevi um texto sobre "a puta". Retomo-o.

Quando um homem (quando alguns homens para ser justa) quer humilhar uma mulher recorre habitualmente a três vocábulos: cabra, vaca e puta.
A lógica por detrás da retórica é simples: trata-se da tentativa de a desvalorizar comparando-a a um animal ou questionando a moral sexual da mesma.
A vida é pródiga em paradoxos, é o que digo habitualmente a estas mulheres, mais irracional que um animal (que nalgumas culturas até são sagrados) é quem necessita de humilhar ou vilipendiar o outro.
Em pleno século XXI alguns homens educados de forma castradora entre as mulheres para “casar” e as mulheres “para foder” (tanta mãezinha culpada pela violência exercida sobre outras mulheres ) consideram que a pior ofensa que se pode fazer a uma mulher é chamá-la de meretriz, reduzindo-lhe o “valor sexual”. A essas mulheres digo que não se trata de uma ofensa, mas de um elogio, pois revela medo. Nada intimida mais um homem ( ou alguns homens ) do que uma mulher bem resolvida e descomplexada (e se for bonita , inteligente e independente então morrem de medo).
Habitualmente os abusos verbais passam também pelo clássico: “vai-te foder”. Recentemente numa troca de mensagens sobre um outro tema um conhecido fez uso do “clássico”. Respondi-lhe, e perdoem o meu francês, ” vou sim com muito gosto, mas será com alguém que não seja impotente como tu”. A conversa e a tentativa de ofensa morreu ali.


(Como eu gostava de encontrar num face a face estes juízes guardiões da moral alheia)

Helena Ferro de Gouveia@FB

4 comentários:

  1. Perante este tipo de insanidade mental, que é recorrente por cá, só me ocorre uma adjectivação: "pichas moles".

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  2. uma insanidade mental que ainda é cultural, agraciada por muitos pilas cobardolas. :(

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  3. :)

    a Helena toca em algo que combato há muito: a perpetuação de tudo isto pelo lado das mulheres. Bem sei, é um tema excessivamente sensível mas, de uma vez por todas, é necessário perceber que são mesmo as mulheres quem educa as crianças (basta ir a uma reunião de pais, na escola...) e o que continua a ser o 'rosa' vs 'azul'.

    Não imaginas o quanto me dói (contiuar a) escrever isto, querida Nashi :(

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    1. embora me pareça que não só as mulheres quem educa, entendo quanto ao também são algumas mulheres que educam para isto. e sim, ainda é mais duro quando esta loucura é aceite, promovida ou justificada também por elas.

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