se por estes dias só tiverem tempo para ver um filme que seja o Florida Project
aqueles putos... dava um oscar a cada um. são tão genuínos, criativos, resilientes e vivos. dava outro oscar ao Sean Baker, por mais uma vez nos trazer uma obra tão realista, sem recorrer ao drama excessivo, deixando que as histórias se contem por si.
mas
mas é pai. e pai é pai.
mas é mãe. e mãe é mãe.
nestas afirmações parece estar contido que todo o nascer de é ser cuidado por. naturalmente inerente ao processo de criação, o desvelo. com sorte, altruísta. mas só encerram em si o desejo que assim seja. que no prolongamento das palavras se torne verdade, que a vida seja harmoniosa em família. e uma confrontação que a semântica sem magia pode ser profundamente dolorosa. pai, não é pai e mãe, não é mãe. esquecendo a biologia, mas a relembrar que precisamos de identidade, de raízes. que nos construímos também com essas referências. e se elas existem completamente deformadas?
o meu pai é a pessoa de quem menos gosto na família. há mágoa, assim como há desejo que mude (como as compreendo). há, também, alguma aceitação por soma de tantas desilusões. à mãe, neste caso, cabe-lhe ser a mãe é mãe, no seu todo, ainda que ela própria também ande à procura da sua identidade e questionando quantas vezes conseguimos criar novas raízes e firmar porto seguro?
mas é mãe. e mãe é mãe.
nestas afirmações parece estar contido que todo o nascer de é ser cuidado por. naturalmente inerente ao processo de criação, o desvelo. com sorte, altruísta. mas só encerram em si o desejo que assim seja. que no prolongamento das palavras se torne verdade, que a vida seja harmoniosa em família. e uma confrontação que a semântica sem magia pode ser profundamente dolorosa. pai, não é pai e mãe, não é mãe. esquecendo a biologia, mas a relembrar que precisamos de identidade, de raízes. que nos construímos também com essas referências. e se elas existem completamente deformadas?
o meu pai é a pessoa de quem menos gosto na família. há mágoa, assim como há desejo que mude (como as compreendo). há, também, alguma aceitação por soma de tantas desilusões. à mãe, neste caso, cabe-lhe ser a mãe é mãe, no seu todo, ainda que ela própria também ande à procura da sua identidade e questionando quantas vezes conseguimos criar novas raízes e firmar porto seguro?
![]() |
♥ |
quase todas as manhãs, a caminho do trabalho, cruzo-me com uma senhora dos seus setenta anos. cara simpática e doce, cabelo arranjado, costas direitas, roupa colorida e o seu carrinho de compras. àquela hora já vem da praça, levando consigo legumes e frutas frescas da época que utilizará nas refeições do dia, sem precisar de guardar nada no frigorífico. imagino-a a cozinhar com prazer, sem a urgência de horários a cumprir que não seja o da sua ida diária à praça. imagino-a. nunca troquei uma palavra com ela, não sei como se chama, não sei onde vive, com quem vive, como vive. quem sabe quando entra por casa encontra o tormento e a ida à praça seja a sua pausa. ou a sua obrigação ditada por outros. não o creio pelo ar que tem. mas é o meu olhar, que pode ser apenas nada.
numa semana soube de duas histórias cruéis sobre duas crianças de seis anos, com as quais também me cruzo quase todos os dias.vejo-as uns dias aos saltos, outros dias em birra, outros dias com sono, outros dias. a uma delas foi dada à custódia total à mãe depois de se descobrir que o pai via pornografia e se masturbava à frente dela. a outra levou um enxerto de porrada da mãe, que incluiu ser pontapeada, num fim de tarde à porta da escola.
hoje conheci uma mulher que dormia - salvo seja - com um burgesso e a ameaça de uma arma. ali na almofada ao lado.
garanto que não ando à procura destas histórias. chegam-me aos ouvidos sem aviso e deixam-me cada vez mais sem capacidade de articular grande coisa. a dimensão de conhecer as pessoas - estas pessoas -, de serem mais do que acontecimentos lidos ou ouvidos de alguém que conhece alguém, que conhece alguém, longínquo o suficiente para não criar uma ligação tão estreita.
preciso estar mais atenta com quem me cruzo sem conhecer e sem querer conhecer. um certo paliativo para intervalar o que conheço.
hoje voltei a sentir-me muito cansada.
____
deixei a minha mais nova adormecer no sofá. agora mesmo, está deitada ao meu lado no sofá, num sono tranquilo. a mais velha está na cama dela, talvez tenha adormecido outra vez com um livro que acaba por deixar cair e amanhã vá novamente refilar porque não marcou a página. vou lá dar-lhe um beijo daqui a pouco.
____
na segunda-feira talvez tente fotografar a minha velhota do carrinho de compras.
na segunda-feita talvez contacte a cpcj.
até segunda-feira não quero que me contem mais histórias. só as estórias da viagem à lua da minha mais nova e as bds de colagens da minha mais velha. ali pelo meio talvez encaixe um filme de ficção científica, do espaço e mais além, com naves intergaláticas, os bons e os maus, os assim-assim, talvez uma princesa-heroína.
numa semana soube de duas histórias cruéis sobre duas crianças de seis anos, com as quais também me cruzo quase todos os dias.vejo-as uns dias aos saltos, outros dias em birra, outros dias com sono, outros dias. a uma delas foi dada à custódia total à mãe depois de se descobrir que o pai via pornografia e se masturbava à frente dela. a outra levou um enxerto de porrada da mãe, que incluiu ser pontapeada, num fim de tarde à porta da escola.
hoje conheci uma mulher que dormia - salvo seja - com um burgesso e a ameaça de uma arma. ali na almofada ao lado.
garanto que não ando à procura destas histórias. chegam-me aos ouvidos sem aviso e deixam-me cada vez mais sem capacidade de articular grande coisa. a dimensão de conhecer as pessoas - estas pessoas -, de serem mais do que acontecimentos lidos ou ouvidos de alguém que conhece alguém, que conhece alguém, longínquo o suficiente para não criar uma ligação tão estreita.
preciso estar mais atenta com quem me cruzo sem conhecer e sem querer conhecer. um certo paliativo para intervalar o que conheço.
hoje voltei a sentir-me muito cansada.
____
deixei a minha mais nova adormecer no sofá. agora mesmo, está deitada ao meu lado no sofá, num sono tranquilo. a mais velha está na cama dela, talvez tenha adormecido outra vez com um livro que acaba por deixar cair e amanhã vá novamente refilar porque não marcou a página. vou lá dar-lhe um beijo daqui a pouco.
____
na segunda-feira talvez tente fotografar a minha velhota do carrinho de compras.
na segunda-feita talvez contacte a cpcj.
até segunda-feira não quero que me contem mais histórias. só as estórias da viagem à lua da minha mais nova e as bds de colagens da minha mais velha. ali pelo meio talvez encaixe um filme de ficção científica, do espaço e mais além, com naves intergaláticas, os bons e os maus, os assim-assim, talvez uma princesa-heroína.
a six-part series about becoming a mother
vi há pouco tempo estes vídeos, que deixaram alguns ecos. o maior é o espaço necessário para cada um de nós e a nossa definição, sem invasões que criem ruído naquilo que muitas vezes é já titânico. por outro lado, conhecer histórias que se assemelham, por pouco ou muito que seja, às nossas conforta-nos e afasta uma certa solidão que se sente nas nossas escolhas e consequências.
(voltei a tirar do armário a capa de super-o-que-for-preciso)
daquilo que mais se retira da história de Sísifo: o pedregulho. que é, assaz vezes, um calhau. de gente também, no seu substantivo.
uns mais evidentes, um descanso para as expectativas. hélas, que ainda assim não retira os danos.
uns mais evidentes, um descanso para as expectativas. hélas, que ainda assim não retira os danos.
*
diria que os homens que agora se sentem acossados e argumentam medos injustiçados em flirts e galanteios já antes não eram grande merda. a diferença é que agora (espero que cada vez mais ) sejam mais merdosos, medrosos e fiquem de bico calado. e mãos quietas.
aos outros nada é preciso dizer. já o sabem.
*
Subscrever:
Mensagens (Atom)