desta vez sem filtros

e sem meias palavras. a história - com os factos, por inteiro - contada, finalmente, por mim em público. sem medo e sem vergonha.

estou divorciada há dois anos e qualquer coisa. o meu casamento foi marcado pela violência que o meu ex. exercia sobre mim. em todas as formas: a psicológica e a física. anos vividos em completo silêncio da minha parte sobre o assunto. conseguir separar-me foi também conseguir falar. começou muito em privado, com os meus amigos, a minha irmã, o meu psicólogo e algumas catarses pelo meu antigo blogue. a violência psicológica manteve-se por parte do meu ex., mas que não impediu que eu tomasse rédeas à minha vida. longe dele e cada vez mais imune aos seus constantes ataques.

durante todos estes anos procurei proteger as minhas filhas de tudo isto e esconder-lhes o que de facto se passava. este não podia ser um problema para elas, pois não era com elas, era entre mim e o pai. respeitei a ligação afectiva que tinham com o pai e por isso permiti que a custódia fosse partilhada.

na passada quarta-feira, dia 25 de maio de 2016, levei a nossa filha mais nova, a Carolina com quatro anos, a uma consulta de rotina à pediatra. o pai não quis ir à consulta, tal como nunca quis estar presente em todas as outras consultas ou reuniões nas escolas das duas filhas. fiz o que era habitual: tratar dos assuntos delas, mesmo que o pai se mostre sempre desinteressado destas questões. tinha combinado com ele deixar a Carolina depois da consulta no ATL da Bia e assim ele levar as duas para casa. era a semana delas estarem com eles. a consulta atrasou-se e ele liga-me do ATL, já com a Bia e pergunta-me onde está a Carolina. a Carolina ainda está na clínica, a consulta atrasou-se, vem cá ter e levas a Carolina. seguiu-se a recusa dele em ir buscar a Carolina ou esperar no ATL e acabei por ter que levá-la a casa dele. onde levei porrada. socos na cabeça. mandada ao chão e ser imobilizada por ele e depois ser arrastada pelo chão. a namorada dele assistiu a tudo e não fez nada para parar o ataque. as minhas filhas estavam em casa deles, não viram a agressão mas ouviram os meus gritos a pedir ajuda e ouviram o pai chamar à mãe de maluca de cabeça, de intrusa e mais umas quantas variáveis. houve mais, mas isto chega para perceber o cenário.


desta vez ele subestimou-me. deve ter pensado que mais uma vez eu meteria o rabinho entre as pernas e que passaria dias a chorar sem fazer mais nada. enganou-se. deste lado está uma mulher de armas que jamais voltará a permitir que isto passe impune. já não há vergonha ou medo. há uma pessoa muito segura e focada no que deve fazer. a queixa crime já segue para o tribunal.

não é de animo leve que torno isto público. tal como a maioria das pessoas prefiro manter a minha vida em privado. mas a dimensão da gravidade da situação levou-me a tomar esta decisão. é preciso denunciá-lo. deveriamos sempre denunciá-los. a vergonha não pode ser da vítima, mas sim do agressor. eles tem de ser responsabilizados por tais actos. quem se cruza por eles tem de saber as bestas que são. não pode haver paninhos quente a relevar momentos de cabeça quente. a lei, que é quase sempre um atraso, já define estas situações como crime e a sociedade tem também a obrigação de o fazer. não pode haver sequer espaço para dúvidas e juízos de valor de merda como ah, mas se calhar não foi bem assim, se calhar ela portou-se mal. num exemplo mais extremo: é como justificar uma violação por a menina andar com uma saia curta. não há desculpas. não há nada que possa justificar a violência deste tipo. nada.


6 comentários:

  1. nada justifica isto, não, e a atitude a tomar, a única, já a tomaste. De caminho, qpresenta também queixa da namorada do animal, que foi cúmplice, assistindo sem intervir.

    para ti, minha querida, um desfecho rápido de tudo isto.

    e parabéns pela denúncia, pública, como sempre deveria ter acontecido com todas as mulheres.

    um abraço muito apertado.

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  2. um forte abraço, Rita.
    e obrigada por partilhares, é muito importante que apontemos o dedo a estes crimes e exijamos o que é de todos por direito - justiça.

    muita força.

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  3. Fico aqui a abraçar-te. Posso?

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  4. obrigada a todas pelas palavras. fazem diferença, muita <3

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  5. O que me apraz dizer sobre o acto em si seria de uma violência tal que não posso expressa-lo aqui.

    Resta-me desejar que haja força e mais força para levar o caso até às ultimas consequências: a justiça e o castigo.

    Abraço

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    1. o foco está precisamente nisso: justiça (demasiada adiada).

      outro abraço.

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