uso o sarcasmo publicamente para combater ilusões muito privadas, com os quais ainda tenho pouco controlo, apesar das lições. um hiato assustador entre a razão e a emoção, que continuo sem entender. como pode haver tanto desfasamento entre ambas quando pertencem ao mesmo? estou a pouco mais de um par de meses de fazer quarenta e um anos. passei a marca dos quarenta sem a sensação de barreiras, até agora. sinto o meu corpo a envelhecer. se como mais de duas fatias de queijo fico com azia. emagrecer é cada vez mais difícil, ainda que a motivação agora seja mais crucial por ser mais uma questão de saúde e menos de aspecto. não posso virar a cabeça muito rápido que fico com vertigens, daquelas que chegam às náuseas. perdi a vontade de concretizar sonhos, já estão quase todos no lixo de uma leve memória. levo, agora, a minha vida a gritar que só quero paz. não de paragem, que para isso terei o caixão um dia, mas na simplicidade dos dias. os que passo com os amores da minha vida, as minhas filhas. as duas sentadas junto a mim no sofá ao fim do dia, a vermos um qualquer filme de animação, sem falarmos por palavras, com uma encostada no meu ombro e a outra a brincar com as minhas mãos nas dela. ou os fins de tarde onde o caminho de regresso a casa se faz com conversas de como foram preenchido os dias delas. o tempo com os meus amigos, daqueles em que estamos sem máscaras, onde se discute a Trampa do mundo, os super-heróis, o peso que algumas horas do dia tiveram... os abraços que chegam sem dizermos nada, olhando uns para os outros apenas. uma linguagem de conhecimento que adquirimos entre nós. a redenção do meu pai - sim, ainda está a tempo disso, por ele, por mim, pelas minha filhas. recordo-me dos poucos anos de real contacto com o meu avô materno que me marcaram para sempre, foi a melhor pessoa que conheci até hoje. em tempos convulsos amou puramente, sem nunca exigir retornos ou pedir ajuste de contas com histórias passadas.

devia ter feito parágrafos. não devia começar frases com verbos. devia ter mais cuidado com as vírgulas, mas who cares? importa-me que saiam as emoções, o conhecimento, um pouco de auto-análise reflectida. que a escrita me serene.

7 comentários:

  1. tive um avô igual. que falta me faz, todos os dias.

    um abraço.

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    1. eu soube que ele ia morrer. vi-o a morrer durante os últimos meses. deixei que o legado dele estivesse sempre comigo. talvez por isso o luto me tenha sido menos duro e a falta menos presente.

      um abraço, menina de nome doce *

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  2. que a escrita te serene
    (a mim fez-me perder num labirinto)

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    1. ajuda a clarificar... mas a tristeza mantém-se.

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  3. Gosto da escrita assim, em golfadas de alma, sem vertigem.

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    1. e falando nisso, onde anda a tua escrita? a tua primeira continua na minha mesinha de cabeceira, as minhas filhas precisam de mais ;)

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    2. A minha perdeu-se. Fica tudo demasiado mastigado e depois não faz a digestão, fica só o bolo alimentar. Um dia destes a ver se volta!

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