quando estou triste (jesus, tantas vezes, é normal de normalizado pela média?) balanceio entre a música que acompanha o ritmo natural ou forço umas batidas mais resistentes e uns up, up girl. não é bem o dia...  já ouvi esta uma boa dezena de vezes, colada aos sensores, com pequenos intervalos do Yet Again. yes, again the Slow Life.




penso estar a fazer as coisas diferentes, a melhorar, a não deixar de arriscar e termina exactamente como sempre. abre-se um novo fosso e sinto-me a perder pessoas. invade-me novamente uma grande tristeza, com a única diferença de que agora já não me deixa angustiada. apenas e unicamente triste. é uma aceitação sem retorno. procuro outras vias de me fazer sentir, de não me ir morrendo enquanto perco.

***

agora na varanda com o portátil no colo a musicar o ambiente e uma mini preta na mão. vejo a noite a cair, deixando de ver o fumo que chega até aqui, mas a manter o cheiro que foi de morte. sinto-me pequenina, egoísta, fechada no meu mundo. 

oh god,

Bon Iver, querido, podias cantar sempre assim, sem parecer que te estão a apertar os tomates (com os consequentes extra agudos de dor).

well done.


aproveitar o feriado e o tempo quente para lavar roupar, arrejar a casa, aspirar, arrumar o sótão, ir às compras, tirar o pó aos livros, lavar o carro, mudar os interruptores partidos, ...



cair da cama

não foi literalmente mas doeu como se o tivesse sido. a luz das seis e meia da manhã, acompanhada pelo insistente despertador, obrigaram-me a acordar de uma noite a sonhar sobre as minhas frustrações. outra vez a rotina a meter-me numa bóia de salvamento: os pequenos-almoços, beijos e abraços às minhas beloved e o trabalho.
Escutei, à distância, o som de um trompete e perguntei ao criado o que significava. Ele não sabia nada, nada ouvira. Frente ao portão, deteve-me e perguntou:
- Onde vai o meu amo?
- Não sei – respondi – Daqui para fora, vou-me embora, apenas. Daqui para fora, é só, só assim conseguirei atingir o meu objectivo.
- Então vossa senhoria sabe qual é o seu objectivo? – Perguntou novamente.
- Sim – retorqui – Já te disse: daqui para fora, é esse o meu objectivo!

—Franz Kafka, A Partida

sete horas da tarde

e o que me apetecia era sentar-me e não fazer a ponta de um corno. recordo a entrevista lida há um par de horas: a força mais poderosa é estar interessado em alguma coisa. pode ser a Dinastia Ming, o que quer que seja, se estiveres interessado o suficiente para o estudar e aprofundar, então não corres perigo. eu corro perigo. o meu psi diz-me isto há algum tempo, essa coisa do fazer e do interesse. já comecei quinhentas e quarento oito coisas diferentes. a maior parte delas mentalmente, poucas foram as que viram vida e dessas todas foram efémeras. o melhor que consegui foi não estar parada tanto tempo, não que o mexer-me fosse [seja] efectivamente produtivo. é o possível. o que me reduz a uma espécie de derrota mas tenho demasiada preguiça para mais. e medo. muito. enfim, julgo que percebi o ponto até ao qual consigo resistir. um milímetro a menos ou mais e catrapumba, escangalho-me e mais do que querer sentar-me, quero é dormir.

agora vou fazer o jantar [ao contrário do muito que se diz sobre as desvalorizadas rotinas, elas salvam].

Tem tudo o que procurava? Sim? Então agora vamos tomar um belo café.

Sim, a retórica política é capaz de matar. A política pode assassinar por meio da linguagem. O horror do movimento nazi foi largamente baseado na retórica, na propaganda. Muito mais poderosas do que qualquer exército são as mentiras do totalitarismo. O totalitarismo funciona através da linguagem. E também existe outro fenómeno: pode ser-se um grande artista e um assassino, uma pessoa a favor do extermínio. Há um momento muito importante nos diários de Cosima Wagner, em que Wagner está lá em cima, no primeiro andar, e ela ouve-o ao piano a rever o 3º ato do “Tristão”. Ele desce para almoçar, e de que é que eles falam? De como queimar os judeus. O homem que tinha estado a compor a melhor música do mundo desce para almoçar e discute alegremente como livrar-se dos judeus. O que quero dizer é que eu não poderia viver num mundo sem a música de Wagner. A minha dívida para com ele é enorme. A minha dívida para com Nietszche, para com Céline! Que livros belos e horrendos! Não tenho resposta para estas pessoas. Não há explicação. Perante os gigantes temos de ficar calados.

***

Mas, acima de tudo, o meu lema foi saber que a força mais poderosa é estar interessado em alguma coisa. Pode ser a Dinastia Ming, o que quer que seja, se estiveres interessado o suficiente para o estudar e aprofundar, então não corres perigo. Se te prendes a qualquer coisa — pode ser arqueologia, música, desporto — que seja maior do que tu próprio, não corres perigo. O terrível é quando as pessoas se prendem a uma nada, ao vazio.

*** 


OCD


A thousand times, a thousand times
I’ve had that dream a thousand times



mil vezes pode ser muito, ali a roçar a obsessão.
ou não.
ser nada mais que um grande desejo que se prolonga no tempo.

vou ouvir a thousand times.


ontem, como hoje, a mais pequena pergunta porque há pessoas que não vão à festa de aniversário dela. aos seis anos tive de lhe explicar aquilo que não me apetecia que ela sentisse, que percebesse. que os laços podem ser mais frágeis e incertos do que gostariamos, que não faz sentido um pai não estar porque simplesmente não quer, que amigos têm mais que fazer, que não é por mal, simplesmente apareceram outras coisas urgentes para as pessoas fazerem e não podem estar, mas que gostam muito dela e que tenho a certeza que gostariam de estar presente neste dia.

depois engasguei-me. literalmente. tinha ali um nó qualquer que fez com que a saliva fosse para o canal errado. um cagaço do caralho. enquanto não entrava o ar, uma agarrou-se às minhas pernas a chorar e a outra, a mais velha, a bater-me nas costas. naqueles segundos não vi a minha vida em restrospetiva. vi o futuro delas e ... acalma-te, Rita, porra acalma-te e fiz sinal à mais velha para ir chamar os vizinhos. voltei a respirar. uffa.

hoje o dia é teu menina linda. ninguém vai remexer na merda e intensificar as faltas. conta quem está, com a garantia que provarei que a vida avança bonita.