terapia _05

Quem entra é recebido por dípticos a preto e branco identificados com o nome de mulheres: 
 Alice foi queimada, 
Leonor brutalmente agredida e abandonada numa poça de sangue, 
Rosa envenenada, 
Teresa suicidou-se depois de anos de agressão física e psicológica, 
Fátima, depois de uma forte pancada, o seu crânio quebrou-se, 
Ana, as mãos que amam são as mãos que matam, 
Margarida, um tiro levou a sua vida, 
Maria, a sua carne foi esfaqueada.
Todos eles casos reais, ocorridos em Portugal. 

Há depois uma sala negra, um espaço de silêncio para percorrer depois do inicial soco no estômago. 

Já numa parede branca, suspensos sobre um fundo vermelho, a cor do amor e do sangue, há uma série de objetos iluminados como pedras preciosas numa loja de jóias. 
Um martelo, 
uma pedra, 
uma faca, 
todos eles objetos comuns, mas que foram utilizados para matar. 

Na última moldura do corredor, um espelho onde cada visitante se pode ver refletido. 
Desafia João Francisco Vilhena: 
Como nos vemos no fim deste percurso? 
Um assassino tem rosto? 
Uma vítima escondida? 
Qual é a dimensão da fronteira que separa o amor do ódio? 
Do tédio? 
Da falta de humanidade? 
De respeito pelo outro?”

@expresso.sapo.pt/blogues/bloguet_lifestyle/Avidadesaltosaltos/2019-02-01-Matei-a-por-tedio-confessou-ele


não sei que estratégia de sensibilização funcionará melhor, das exposições às campanhas com cartazes. sinto que falta sempre qualquer coisa. não sei o quê. talvez uma mão mais pesada nos tribunais, criando o medo das consequências dos actos destes filhos da puta. ou antes disso, naquela discussão que ouvimos no apartamento do lado e derrotar o ditado que entre marido e mulher não se mete a colher.

há uns meses denunciei um caso. sem provas, se não o de um testemunho indirecto. não denunciei à polícia mas sim a uma associação que trabalha no apoio às vítimas de violência doméstica e faz a ponte junto das forças policiais e dos tribunais. tive receio que uma queixa na polícia fizesse escalar a putice do agressor. sei que aquela família vive num medo que as paralisa. abordadas com todas as reservas de privacidade recusaram confirmar a situação, o que entendo ainda que lamente e tema por elas.

ontem conheci pessoalmente o filho da puta em questão. estavam presentes crianças e tive de dizer um boa tarde à força, mas com a minha pior cara. esta noite dormi muito mal, aquela cara não me sai da cabeça, assim como uma profunda vontade de rebentar com ele (leia-se vê-lo preso por muitos anos e esperar que seja como nos filmes e que leve umas boas porradas lá dentro, uma espécie de justiça kármica, mas acho que é só nos filmes mesmo).

não há terapia que me controle esta raiva, talvez ainda bem.


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