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sentir um cansaço tal que até tens dificuldade em abrir o portátil para acabar só mais um trabalho, nem deve demorar mais de meia hora, mas quase adormeces enquanto o indesign abre.

o bom que é este cansaço, de quem trabalhou muito nestes dias e andou em correrias de festas de natal das pirralhas. das noitadas, metade a ouvir noite feliz em cânticos e a outra metade agarrada ao portátil a dar corpo a uma revista.

o bom que é não ser aquele cansaço, o da doença. o efeito secundário que quer ser necessidade primária.

como é bom estar, assim, cansada.

oh, wander







em menos de vinte e quatro horas fui bombardeada com boas notícias: uma amiga grávida, outra amiga que ganhou mais um prémio literário, mais um processo em tribunal que seguiu bom caminho e por aí fora. mas como bem sabem os antigos destes tempos — não só os de outrora —, esses da sabedoria popular conquistada a pulso e com as mãos na massa, não te deites à sombra da bonança que tens uma tempestade na mão. sempre. de uma maneira ou de outra e em todas as vidas, suponho.

ainda ingénua e idealista gostava que só se morresse de velhice, numa espécie de adormecimento indolor. é um facto que o homem até já tem mais de sete décadas em cima mas parece-me que a sua velhice será in dolor.

my little fun playground

[in the meantime enjoy the breaks. and don't break]




paixão assolapada




[ ó Sharon já podias deixar de fazer músicas que me apetecem ouvir duzentas e trinta e sete vezes seguidas ]

amazing facts that will blow your... mind


se a vida te der limões




make a spatial duo


Le monde entier est un cactus
Il est impossible de s'asseoir
Dans la vie, Il n'y a qu'des cactus
Moi j'm'pique de le savoir

Aïe! Aïe! Aïe! Ouille! Aïe! Aïe! Aïe!

Dans leur cœur il y a des cactus
Dans leur portefeuille y a des cactus
Sous leur pieds, Il y a des cactus
Dans l'heure qu'il est y a des cactus

Aïe! Aïe! Aïe! Ouille! Ouille! Ouille! Aïe!

Pour me défendre de leur cactus
A mon tour j'ai pris des cactus
Dans mon lit, J'ai mis des cactus
Dans mon slip j'ai mis des cactus

Aïe! Aïe! Aïe! Ouille! Aïe! Aïe! Aïe!

Dans leur sourir' il y a des cactus
Dans leur ventr' il y a des cactus
Dans leur bonjour, Il y a des cactus
Dans leur cactus il y a des cactus

Aïe! Aïe! Aïe! Ouille! Aïe!

Le monde entier est un cactus
Il est impossible de s'asseoir
Dans la vie, Y a des cactus
Moi j'm'pique de le savoir

Aïe! Aïe! Aïe! Ouille! Aïe! Aïe! Aïe!

Alrigh

(não gosto - nem nunca gostei - de cactos. certo.)
uma vez uma amiga disse-me que eu agora tinha uma vida boa: duas filhas, uma relação estável, um emprego onde tudo corria bem, etc e tal. acrescentou que agora eu não tinha razões para me sentir mal. não duvido das suas boas intenções nessas declarações — que são em parte verdade, mas não a verdade toda. não somos apenas o que temos e a forma como estamos com o que temos. somos também nós próprios. talvez sejamos sobretudo isso e curiosamente é o mais difícil de descrever. fazendo um exercício simples: à pergunta frequente de quem és tu? ou para nos apresentarmos, o que respondemos? mãe de B e C, namorada de T., designer, franciú de origem, provinciana por escolha, cota com dores nos joelhos e — secretamente — lutadora de demónios nos tempos livres.





é com muita frequência que me sinto à beira de um ataque de pânico (ou já dei o salto e mergulhei nele). o que inclui os habituais sintomas de uma respiração que parece não ser suficiente para oxigenar o necessário, tremores e formigueiro nas mãos, náuseas que provocam alguma dificuldade até em beber água e medo (daqueles medos pouco consistentes e sem causalidade). sei todo o bê-à-bá do que devo fazer. e faço. só não consigo prevenir porque aparecem até nos momentos de maior bonança. talvez por tanta concentração em controlar o de ontem, que dei por mim alienada do sítio onde estava. toca o telefone que está em cima da minha secretária e dou por mim a não saber onde estava, a deixar cair uma garrafa de água que tinha na mão (sabe-se lá porquê) e olho fixamente para o raio do aparelho que está no trimmm trimmm! reconheço-o como o telefone do trabalho. não faço ideia com quem falei, não me lembro. passada uma horita estava como se nada tivesse acontecido.

quando se sai de casa nunca sabemos se vamos escorregar no montes de folhas outonais molhadas pelas chuvas da noite e ficarmos com o cóccix dorido da queda. também nunca sei quando a minha ansiedade fica em red alert. um dos truques é também não pensar nisso, dada a sua aleatoriedade. teoricamente, tudo muito bonito.

"o que aconteceu para que ficares assim?", é quase sempre a pergunta que vem depois da raras vezes em que falo sobre isto e é frustrante a resposta não poder ser objectiva. ou tentar sê-lo e ver as expressões de estranheza do outro. afinal está tudo na tua cabeça, essa que manda e desmanda como bem queremos, claro. pois, sim.

































★★★★★ 

é uma série policial. é sobre um crime, claro, mas é também sobre quem fica, sobre quem ama, sobre quem lida com uma patologia mental e se resigna a ela, sobre quem procura respostas, sobre quem é assombrado,  sobre o luto, sobre quem somos para os outros.



Sex is an itch to scratch. Love is an itch so far down your back that you can never scratch it with your own hand.

Love. I've been trying to remember what that feels like, to be in love. It's been a while. For whatever reason, it has passed me by. The closest I got felt like food poisoning. In books, and films, and plays, it's always so compelling, so complex. There should be more than one word for love. I've seen love that kills, and I've seen love that redeems. I've seen love that believes in the guilty, and love that saves the bereaved. What we will do for love. Die for it even.

I have always thought a country should be judged on how it treats its insane, rather than its sane; the stranger on our shores rather than those already home.
“It is courage, courage, courage, that raises the blood of life to crimson splendor. Live bravely and present a brave front to adversity.”
― Horace

therefore:


a mais velha lá de casa anda irritada por causa da descriminação com as mulheres, da classe trabalhadora que sendo a maioria é a que tem menos dinheiro mas que trabalha mais e vive pior, dos impostos que os altos funcionários exigem e.... e ainda lhe falta a matéria de História dos últimos 5000 anos, só ainda está no Antigo Egipto. (é isso miúda! 💪👏)

ontem, antes de ir dormir, a cria mais velha demorou umas duas horas a escolher a roupa para hoje. o que não a impediu que demorasse uma hora hoje de manhã a acertar os detalhes. quase perdeu o autocarro. devo preocupar-me?

bem me avisaram que o tempo iria passar rápido. esse tempo que se está bem a lixar se eu sou lenta e, ainda, profundamente agarrada a elas. não sou capaz de explicar o que sinto todas as noites quando elas já estão a dormir e vou ao quarto delas dar um jeito nos edredons, beijos na testa e desligar a luz. o corte vai doer para caraças, ai vai.

contudo (com tudo? apesar de?) respiro fundo e a mais velha sai de casa para apanhar o bus para escola, ainda que sejam dez minutos de casa até lá, de carro. ou que até esteja a caminho do meu trabalho. faz-te à vida, filha - cof cof - mãe.


[acabo de encomendar um destes. uma pessoa precisa de compensação emocional... não julguem -_- ]



sobre coisas nada importantes

estou há uma horita a ouvir esta música e a cantarolar para dentro we are boys and girls, we just want to lose control of our thoughts... of our thoughts....




de thought a tough. disso, ou desses pensamentos, suspiro perante a lentidão tecnológica. o minority report levou-me a uma espera de dezasseis ano por aquela magnífica projecção e manipulação de dados no ar, apenas com movimentos das mãos. para mim era bem mais simples. vejo na materialização dos (meus) pensamentos um caminho para os ordenar, por vezes filtrar e arrastar alguns para a reciclagem. ter tecnologia para facilitar o processo é sedutor, com a crença de que esse ganho seja proporcional à ordenação de algum caos, do meu pinball mental. invariavelmente, acaba por ser feito pela escrita e nem sempre tenho onde escrever. hum, tenho, claro que tenho [talvez ainda encontre alguma dificuldade em pôr no papel (lá está, no digital), essa escrita que leva o seu tempo para ser estruturada e lógica].


ocorre-me, antes de publicar esta posta, que o desejo deva ser exactamente o oposto: passar a escrever à mão.

os miúdos de hoje são uns priviligiados

A foi abandonada pelos pais e vive com a avó.
B é orfã de pai, que se suicidou quando ela era pequena.
C prefere estar na escola. sempre que regressa a casa sabe o que a espera: um pai que bate constantemente à mãe.
D tem os pais divorciados, vive com a mãe e o pai desapareceu sem nunca mais a ter contactado.
E tem um pai que via porno e se masturbava à frente dela.
F tem a mãe em constante internamento e o pai em internamentos ocasionais. a avó é que segura as pontas.
G é anorética, já esteve internada em risco de vida e vive com a constante luta de duas vozes na cabeça. a que lhe diz para não comer ainda fala mais alto.
H viu o pai morrer lentamente de um cancro que o fez deixar de reconhecer o filho nos últimos meses de vida.
I viu o pai a apontar uma arma à mãe. várias vezes.
J foi violado por um "amigo" da família.
K foi abusada sexualmente em criança por um tio. contou a duas pessoas, sob a promessa de nunca ninguém contar a absolutamente nada. nunca mais conseguiu falar do assunto.
L fugia de casa recorrentemente com a mãe e os irmãos, com o pai a alucinar e de armas apontadas à família.
(...)

nenhuma destas histórias foi inventada. nove destas são ainda a realidade em que vivem estas crianças. apenas três são já adultos. não fui ao CM procurar informações, são todos casos que conheço pessoalmente. e já que falo do CM, agradeço-lhes o facto de serem dos poucos jornais que põe cá para fora este tipo de histórias (lamento o choque que alguns intelectuais terão com este meu agradecimento ao pasquim).

ainda bem que as pessoas mudam


já gostava deles, mas vinte e cinco anos depois surpreendem-me com o melhor álbum. bem diferente e incrivelmente bom.

just do it*

hoje, finalmente, contacto a minha advogada para dar início a mais um processo em tribunal. tem de ser. tem mesmo de ser. nem vou fazer de conta que não volto a sentir um arrasto de merda. mas tem de ser. tem mesmo de ser. é  uma questão de justiça para as minhas filhas. para mim é mais um teste: enfrentar novamente, resolver e ficar cada vez mais liberta. ingénuos os que acham que é só mesmo mexer em papeis. ou felizes por não saberem que olhar para um único papel destes é despoletar memórias ainda pesarosas. mas adiante, tem de ser. tem mesmo de ser.

[ podia era ter tido juízo e não ter andado por blogues antigos à procura de um texto, que nada tinha a ver com isto mas que me fez ler textos que preferia não me lembrar. hoje não. ]



*
















As sapatilhas de running Nike Air VaporMax Flyknit Utility dão destaque à função. O design funcional faz com que seja mais fácil e rápido apertar os atacadores, ao mesmo tempo que a boca de meia altura envolve o tornozelo para proporcionar total conforto. Baseando-se nas originais, este modelo conta com maior amortecimento entre o pé e o inovador amortecimento VaporMax. Um look arrojado para uma corrida rápida.

usabilidade e rapidez. vinham mesmo a calhar.

outras complexidades com que não me vou preocupar

creio poder sofrer de alguma perturbação grave de personalidade. continuo a receber emails de trabalho com conteúdos deste género: Muitíssimo obrigado. Pelo trabalho competente e pela sua atenção amável. juro ter mau feitio. juro que é verdade.

se fosse só lexicalmente complexo...

falo das minhas filhas como "as meninas". um plural que facilita a referência a elas, em vez da B. e da C. até há uns dias. já tinha começado a sentir a mudança, mas insistia em chamá-la menina até, ela — a mais velha—, ter os seus momentos de bater portas, de ficar sozinha, de estar só com os amigos, etc. e agora? digo a minha menina — a mais pequena continua a ser menina — e a já menos-minha-menina-e-mais-pré-adolescente? já não há tanto plural, começam a individualizar-se e eu nem dei conta do tempo passar. god help me!

ensaio sobre o desapego

[ quando estou com ele sinto que seria muito difícil deixar de o ter na minha vida. quando não estou com ele sei com toda a certeza que poderia viver sem ele. ]
move

"Quando lhes mostro as coisas que via na minha adolescência, emocionam-se e querem saber o que aconteceu a seguir. Nada. Como, nada? Ora, o propósito era só arrebatar, povoar-nos a cabeça de sonhos, empurrar-nos para fora de casa, fazer-nos pensar que o mundo estava mesmo a contar connosco para a grande transformação. E estava? Não. Então foram enganados? Naturalmente que sim, todas as gerações são, mas ao menos não esperávamos pelo destino sentados no sofá."
maepreocupada.blogspot.com

[continuação da série "blogues que não são sobre dicas de maquilhagem"]
na rentrée (agora sim, já se sente o cheiro a livros novos, a agitação que imprime um bom ritmo nos afazeres do quotidiano):

a nova tasca de um dos meus blogueiros preferidos:
"Não se trata de andar contente ou triste. Ele há malta que anda contente em jornadas vingativas e outra que anda triste porque que pesa cem gramas a mais. Trata-se de ter a inteligência de compreender que o que temos de bom em cada instante é um prazer fragilíssimo, sobretudo, de aceitar que quase nada nos pertence: o aluguer é renovado todo os dias." — insanid.blogspot.com

o novo álbum dos rapazes que fazem umas coisas bem porreiras com a electrónica:




[juntar as duas coisas é apenas uma coincidência das novidades do dia. não espero que amanhã aconteça o mesmo, mas a acontecer aproveitarei, eh eh eh]

sismoslogismos lógicos

— sismo sentido em todo o país
— vivo nesse país e não senti nada
— logo, sou insensível

desabafo

a vida corre bem. quase tudo bem. um quase que não é trágico, é apenas a minha vida a ser extremamente comum e o faltar sempre qualquer coisa ser o normal das vidas.

***

[dêem-me uns dias sozinha e garanto que afundo. nada de novo, portanto]

desafio

ouvir esta música e não sentir um ligeiro nó na garganta — mesmo que a vida esteja naquela coisa do corre bem (corre?).


quarta-feira, 22 de agosto. é importante referir o dia da semana e não apenas a data, servindo de dose dupla de choque para o regresso a qualquer coisa que se tornou mais pequena: a minha rotina, o meu trabalho, deixaram de ser tão grandemente terapêuticos. mantém-se a necessidade financeira, bem como o gosto destas coisas do design mas a minha vida está mais cheia — de tão bom, que troquei a equação: mais é menos. mais completa, menos complicada.

ainda sob esse choque de regresso ao trabalho a meio da semana, com tudo em férias e sem conseguir sentir o cheiro habitual da rentrée: falta o outono, o cheiro a livros novos, a ânsia dos primeiros dias de escola das miúdas, a esplanada ao fim do dia com o gangue todo a dizermos disparates.

recorro a um método com anos de método científico aplicado e estatística a provar a eficácia: música a bombar e aguardo, sabendo que mais hora menos hora os neurónios estarão a bom ritmo para terminar este dia com trabalho feito.


poderiam ser percas, que o peixe saberia bem melhor


as previsões indicam que a partir de amanhã as temperatura podem chegar aos 45º. o que são mais 15º do máximo suportável pela minha pessoa. já verifiquei se o ac da sala ainda funciona e tenho minis no frigorífico. ou seja, tenho planos para sobreviver aos 15º acima do suportável.

não tenho é planos para sobreviver às perdas constantes. com o tempo verifica-se que a vida é mesmo uma sucessão de perdas e deixar de ter planos para o suportar é o grande passo evolutivo. aceitar e resistir aos falhanços, às frustrações, ao que não controlamos, ao que desejamos e que se dilui, às pessoas vivas que perdemos (impossível falar das outras) e, ainda assim, aquela hora na esplanada ao fim do dia com os amigos, o jantar com as nossas filhas, o beijo temporário que nos tira o fôlego, a caminhada sozinha e o perder-me em ruas que julgava conhecer, ser o melhor que a vida tem. por hoje. amanhã, logo se vê. em todo o caso tenho minis no frigorífico.


se beber, não choro?

o primeiro livro que tenho memória de ter lido era acerca de um mocho que recolhia as suas lágrimas para fazer um chá. para tal, rebuscava nas suas recordações situações tristes para provocar o choro. pois sim, e é o mocho símbolo de sabedoria... não lembro como terminava, mas suspeito que tenho ficado envenenado depois de beber o chá.

desses tempos (em que era chic e lia em francês com mais fluência do que em português) ainda recordo outro: La Sœur de Gribouille. tanto drama que não sei como não cortei os pulsos. bonito, bonito, é o que o reli várias vezes.

de facto, agora os tempos são outros, o existencialismo duro é mercantilizado criativamente e à mão de rodar uma tampa. fast suffering?


higiene emocional

[os conteúdos que se seguem podem ferir a sensibilidade dos leitores] 


To love at all is to be vulnerable. Love anything and your heart will be wrung and possibly broken. If you want to make sure of keeping it intact you must give it to no one, not even an animal. Wrap it carefully round with hobbies and little luxuries; avoid all entanglements. Lock it up safe in the casket or coffin of your selfishness. But in that casket, safe, dark, motionless, airless, it will change. It will not be broken; it will become unbreakable, impenetrable, irredeemable. To love is to be vulnerable.
― C.S. Lewis, The Four Loves


 

temos de ter aquela conversa

nada nos prepara realmente para as conversas sobre a vida (ou a falta dela) com os nossos filhos. pelos menos enquanto são pequenos. bah, pequenos porque subestimamos a sua capacidade de observar o mundo. eu não imaginava que naqueles dois recreios — um com miúdos de pouco mais de uma dezena de anos de vida, outro com menos ainda — havia tantos desabafos do tamanho de adultos. não só das minhas, os delas misturados com muitos dos outros.

a B. com a mãe internada há mais de um ano, o pai com a cabeça queimada, funcional a meio tempo (com sorte). a M. que leva porrada dia-sim-dia-sim da mãe. a I. que deixa de dormir sempre que o pai se vai embora para outro país, ganhar o que aqui não consegue. a L. que não sabe explicar bem, mas sente que a mãe anda triste, diferente (é um tumor na cabeça). o Z. que se levanta às seis da manhã para ajudar os pais e não são as actividades extracurriculares que o deixam demasiado cansado para estar atento às aulas da tarde. o L. que só fala de sexo. a inveja que muitos têm da L. porque é sempre bem-disposta e tem pai e mãe para a irem buscar à escola. o C. que ainda faz xixi na cama. (...)

não adianta estar com rodeios. estes miúdos vivem como gente grande, pack todo incluído. dizer que a diferença é ainda não terem maturidade para gerirem emocionalmente tanto caos, é meia verdade. eles crescem o que precisam, sem a vantagem de poderem ir para os copos para esquecer. eu deixo o canal de comunicação aberto, sem julgar — foi o meio mais eficaz que encontrei para as ajudar —, falem comigo. e falam. depois falei eu. sobre a ajuda dos amigos, que o aquilo que fazem nesses recreios é fabuloso: uns falam, alguns ouvem. esses que deixam de ir jogar para estar quase uma hora a ouvir a amiga que tem os pais quase desaparecidos. têm seis, sete anos e sabem estar presentes. sabem, também, quando é o momento para irem descomprimir e passam a ser os miúdos que jogam ao quinze, se riem e se zangam por algum ter feito batota.

pela dimensão do que me chegou, tive de lhes explicar algumas coisas sobre auto-mutilação, os depressivos funcionais, o suicídio. da regra de ouro: ouvirem e depois pedirem — sempre — ajuda a um adulto com quem se sintam à vontade ou aconselhar o outro a fazê-lo.

depois bebemos as três um copo de leite achocolatado enquanto escolhíamos as roupas para vestir hoje e elas iam contando anedotas. tentar perceber como é que o Camões perdeu um olho: deixou-o cair e não o encontrou porque via mal? é demasiado humor negro? não, até porque nos rimos muito à conta disso.

"And yet these two could not bear to live their lives any longer."

“Sometimes I wonder how all those who do not write, compose or paint can manage to escape the madness, the melancholia, the panic fear which is inherent in the human condition,” wrote Graham Greene in his second autobiography, Ways of Escape.

*
Spade created what many women would consider the ideal way of living. Her world was filled with creativity, beauty, family and meaningful work. Having brought into being a fashion line alongside her husband, she sold it and was able to take years off to raise her daughter. She had a successful, creative, family-centric business that gave her time to be a parent. After she died, so many women spoke of how she made them feel seen; how her fun, quirky feminine handbags and style made them realize they were not alone.

Bourdain managed to be masculine without being swaggeringly macho. He was rugged and adventurous and knew how to use big knives, but he had his own literary imprint, Ecco books. Tall and handsome, he got to travel to exotic locales constantly and won awards, fame and wealth. And he ate so well. He was also seen as a rare male hero in the #MeToo movement, for championing Asia Argento’s claims against Harvey Weinstein and for siding with women over fellow chefs. What more could a person want?

*
It’s not much of a solace, but perhaps one thing these deaths could remind us of is the uselessness of envy. As with many of the behaviors once considered vices — greed, sloth, lust — envy reflects a miscalculation in the relative worth of things. When we look at lives like Spade’s and Bourdain’s, it can make our own feel wanting. We haven’t started our own companies, or turned our work experience into a book. They’re happier and more fulfilled, because we are not as hardworking or talented as they are. Their lives look better than ours, therefore they must be better people than we are.

@time.com/5305955/anthony-bourdain-kate-spade-death-envy

monday mourning sounds

"Because if you are making mistakes, then you are making new things, trying new things, learning, living, pushing yourself, changing yourself, changing your world. You're doing things you've never done before, and more importantly, you're doing something. Make new mistakes. Make glorious, amazing mistakes. Make mistakes nobody's ever made before. Don't freeze, don't stop, don't worry that it isn't good enough, or it isn't perfect, whatever it is: art, or love, or work or family or life. Whatever it is you're scared of doing, Do it."


karma police


chegar no momento oportuno ao local certo
sendo o intruso que restaura o equilíbrio,
ser o silêncio que quebra o ruído

— da Ana, que escreve de dentro para fora *
 [modos-de-olhar.blogspot.com]

 


If you try to fail, and succeed, which have you done?
— George Carlin


pode ser visto como ter muita sorte, isto de não precisar que aconteça algo de especial para me ditar o humor. na realidade pode ser um inferno. da realidade não sei bem o que ando a fazer. a família anda com um nó na garganta, esperando heroicamente que este não expluda. a minha sobrinha ainda na sua luta (às vezes encosta-me a um canto com a força que tem demonstrado), as minha filhas em demasiada tensão (que ainda não têm maturidade para gerir e soltam-na como podem. com mais trinta anos do que elas, às vezes, faço o mesmo... ), o meu pai a pouco tempo de fazer uma cirurgia delicada e a envelhecer brutalmente a cada dia que passa (fiz as pazes com ele e preciso que esteja por cá mais um tempito).

escrevi meia dúzia de linhas (mentira, na verdade foram quilómetros de palavras) e volto onde me sinto melhor: aquele cantinho all alone, o meu safe room onde ninguém pode entrar. não quero. fora dele está tudo demasiado agitado.

And once the storm is over, you won’t remember how you made it through, how you managed to survive. You won’t even be sure, whether the storm is really over. But one thing is certain. When you come out of the storm, you won’t be the same person who walked in. That’s what this storm’s all about.
— Haruki Murakami

(certo, mas era escusado terem decapitado as árvores onde habitualmente me abrigo)

fronteiras

"(..) A primeira tendência do cosmopolita é rejeitar as fronteiras. Ler, é, por definição, um acto de cosmopolitismo. Quero ser outro quando leio. Anseio por essa metamorfose - ser outras personagens, outros lugares, outros sentimentos. Eis uns dos paradoxos admiráveis da literatura: sou mais eu sendo outro. (..) Vivemos num mundo repleto de fronteira, por boas e más razões. Aquelas que vemos e as invisíveis. Estão por todo o lado. Umas queremos transpor, outras que nos preservam e conferem identidade."
— Carlos Vaz Marques



o Xilre que me perdoe

(estou sempre a roubar-lhe textos)

xilre.blogspot.pt/2018/05/as-vidas-perfeitas


[ não sei porquê mas estou a ver se consigo chorar. por vezes, sou assustadoramente desequilibrada ]

não ouvi uma única música da eurovisão. nem sequer a portuguesa. sobrevivi aos quinhentos mil posts das redes sociais online sem ter qualquer curiosidade em clicar.

por outro lado, andei com isto aos berros:



e continuo. tenho a secreta esperança que me expulsem do openspace onde se ouve demasiado da vida dos outros e me chutem para um gabinete all alone.
Alper Yesiltas fotografou, ao longo de doze anos, uma janela em frente à sua casa. o resultado é um muito bonito projecto: "Story Of An Unknown Window". cada fotografia em si pode ser já uma história (das cores, do enquadramento, das luzes e das sombras), criar-lhe narrativa no seu conjunto é querer criar memórias. esta é a "minha" sequência (a quarta é uma desconstrução, não sabendo o que irá surgir no seu lugar).





www.instagram.com/alperyesiltas/

fui tentar outro livro. também não resultou lá muito bem.

"Juntamos duas pessoas que ainda não se tinham juntado. Às vezes é como a primeira tentativa para prender um balão de hidrogénio a um balão de fogo: preferimos que se despenha e arda ou que arda e se despenha? Mas às vezes resulta, e algo de novo se faz e o mundo transforma-se. Então, a dada altura, mais cedo ou mais tarde, por esta ou aquela razão, um deles é levado. E aquilo que é levado é maior do que a soma que lá estava. Isto pode não ser matematicamente possível; mas é emocionalmente possível."
— Julian Barnes, Os Níveis da Vida
vi o último episódio de Homeland e fiquei assustada. depois fui ver o Annihilation e fiquei assustada. continuei a ler o livro Nunca Me Deixes e parei, porque fiquei assustada.

de uma maneira ou de outra parece que acabaremos sempre todos fodidos.

now live




This is where
This is where the bottle lands
Where all the biggest questions meet
With little feet stood in the sand
And this is where
The echoes swell to nothing on the tide
And where a tiny pair of hands
Finds a sea-worn piece of glass
And sets it as a sapphire in her mind
And there she stands
Throwing both her arms around the world
The world that doesn't even know
How much it needs this little girl
It's all gonna be magnificent, she says
It's all gonna be magnificent
na semana em que encomendei A Piada Infinita oferecem-me um livro. precisamente um dia depois de ter estado a falar na sua adaptação a filme e dos efeitos secundários que tive depois de vê-lo. coincidências com alguma piada, confesso (esperando que seja menos piada do que a do Foster Wallace). fui direita à última página reler o monólogo que fecha o filme. é melhor ainda. volto daqui a 330 páginas.

Never Let Me Go, de Kazuo Ishiguro

sexta-feira,13

estou há umas boas horas a tentar fazer uma capa para um livro. no monitor da frente tenho o ficheiro aberto no illustrator. pouco mais tenho do que um rectângulo branco com o título e o nome do autor. no monitor ao lado tenho p'raí umas cento e vinte janelas abertas com fotografias, ilustrações, capas de outros livros com o mesmo tema. nem uma pequena ideia sai. na secretária está o resto de uma embalagem de brufen granulado para controlar a febre de uma gripe que não está a dar jeito nenhum. ao lado, um copo com chá de menta e uma garrafa de água. na cabeça, uma dor. literalmente.

no entanto, está a ser uma bela sexta-feira-treze. não fosse o treze-de-abril, o dia do beijo.

duas semanas de dias inúteis. na primeira, não conseguindo estar sozinha, passei todo o tempo possível fora de casa. na segunda só quero estar sozinha, ansiando pela hora de chegar a casa. não abraçando merda nenhuma ao estilo new age - das doenças e males do mundo quero-os longe do alcance da vista -, aceito que assim sejam, até porque ainda não encontrei maneira para que sejam diferentes. bem, na realidade desisti. o que não é mau de todo.

___

entretanto, alguma coisa de útil: uma vista de olhos ao trabalho do André da Loba (vale mesmo a pena espreitar) @ https://www.facebook.com/andre.daloba



dia das mentiras

[ fim-de-semana prolongado, aka mini-férias para alguns. para mim foram quatro dias que me serviram para ir mimar a família. tempos de pouca bonança que pedem para se estreitarem os laços e pôr-se à prova o sangue. quase todos em reunião em casa dos meus progenitores. falta uma, a minha sobrinha e afilhada, de sangue e coração. internada por tempo determinado pela sua força, sei que a tem e acredito que a esteja a descobrir também. ]



o dia de páscoa para crentes, agnósticos ou ateus que serviu sempre para nos juntarmos todos à mesa. até parecia mentira faltarem três: a minha sobrinha e os seus pais que a foram visitar, sendo os únicos que o podem fazer. não fosse assim e estariamos quase todos a comer natas do céu na sala de espera para as visitas. não seriamos todos porque haveria sempre um de nós a preferir o seu cómodo egoísmo. até parecia mentira que nesse dia de trémulo equilíbrio focado na necessidade de um certo normal para, sobretudo, a minha outra sobrinha que não vê a irmã há bons dias e não têm idade para separações deste tipo, houvesse alguém demasiado umbiguista, fazendo questão de mais uma vez o mostrar, que o mundo gira em seu torno e os outros que se fodam. pena que fosse precisamente nesse dia (noutros mando-o à merda mais facilmente). engoliram-se sapos até que o sangue ferveu mais alto que o sangue da família. mandei embora alguém de uma casa que não é a minha e devo ter comprado uma guerra sem fim. ligam-nos os laços familiares e estas rupturas nunca serão facéis, mas prefiro os de sangue e coração. inesperadamente, os que ficaram estão mais fortes. abracei a minha mãe como não o fazia há décadas. parecia mentira que depois de tudo o dia acabasse com jogos de carta e o meu pai a recordar-me as regras da sueca.
Quem na rua se perde
Encontra o que pede
Acerta o que mede
E conta até errar
Que o erro é onde a sorte está
Não queira ver




dia lixado

o que faremos neste dia povoado de crianças sem pai? nas escolas o lufa-lufa na expressão plástica e na musical, sem retorno de expressão. em crianças órfãs de pai, órfãs de pai vivo, órfãs de memórias a celebrar, não órfãs de recordações que um dia quererão esquecer. sujeitamo-las a uma dureza a que muitos adultos mal suportariam. é que para elas também é dia do pai, só que ali a uns cento e oitenta graus de diferença, sem saberem a quem darem os desenhos ou a quem cantar a música. digam-lhes a elas que é a mesma coisa se derem ao avô, à mãe, ao tio, com um tom condescendente como se elas não soubessem que é o dia do que não têm.


como suportar uma sexta-feira de manhã

na qual todo o teu corpo te diz que é sábado. domingo. feriado. férias. greve. qualquer coisa serviria.

a ouvir no máximo o novo album desta gente. they still rock \m/




#FightMentalHealthStigma

um amigo facebookiano escreveu um post sobre o Célio Dias e... bem, mais vale ler: 
O Célio combinava 3 coisas que o colocavam como underdog da vida: negro (em portugal), de origens muito humildes e homossexual. Junta-se-lhe outro estigma agora, o da doença mental. Todas estas coisas revelou numa simplicidade desarmante. O percurso de vida feito de uma luta extrema: aluno aplicado, atleta de topo, modelo. O discurso e a sua escrita é extremamente lúcido. E não digo que é articulado e lúcido para alguém com um distúrbio em tom condescendente: digo que é articulado e lúcido comparado com 99.9% das pessoas a falar para estranhos sobre si própria. Aborda temas como as lutas pessoais, as ambições, a forma como nos projectamos na sociedade, as máscaras que temos, a hipocrisia, as adversidades, a derrota, os projectos de responsabilidade social etc. Quando ouvi a história na primeira pessoa só pensei que era incrível se todos a conhecessem e fico feliz por ter dado a entrevista (no jornal Record).
depois das revoluções (ainda em curso) das questões raciais e das de igualdade de género, é esta que espero: o combate ao estigma das doenças mentais. do cardápio disponível, coube-me ter uma (basta dizer que tenho uma doença mental, sem querer dizer qual porque ainda não é a mesma coisa dizer que tenho diabetes e eu não sou assim tão corajosa como o Célio).

estou medicada para amortecer os sintomas. podia estar menos medicada se conseguisse ter um estilo de vida mais saudável, como por ex. fazer exercício físico à séria. podia estar mais medicada se não levasse isto a sério, procurado ajuda especializada, fazer psicoterapia e perceber que ainda que seja uma luta constante já não é o que me define os dias.

tive sorte. apesar de tudo a minha doença é uma menina, mesmo que pouco meiga, é uma menina. conheço os seus familiares mais velhos, duros e incapacitantes. sei que o limiar de uma coisa maior é assustadoramente ténue, daí o respect, my little girl.

passaram-se mais de vinte anos desde que tive os primeiros sintomas (do que me lembro) até ser diagnosticada. o dia em que soube foi de enorme alívio: havia algo em concreto que pudesse perceber e trabalhar. deixando para trás uma sucessão de episódios infelizes, severos e violentos, que não compreendia e não sabia como lidar.

por ora é mais fácil escrever por aqui, com um público de seis leitores. creio que nunca chegará o dia em que fale abertamente disto (como outros falam dos seus diabetes, das suas cardiopatias, da osteoporose, de uma dor de dentes). hélas, duplicam o seu peso: na mente e na sociedade, com batalhas em ambas.
(and stop again)

With your feet in the air and your head on the ground
Try this trick and spin it, yeah
Your head will collapse
But there's nothing in it
And you'll ask yourself


Where is my mind?


(with my feet on the ground and my head in the air)

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deve estar a fazer uns trinta anos em que foi lançada e continua a ser óptima para ser servida com o pequeno-almoço.




(a escolha dela no soundtrack do Fight Club não foi inocente)

se por estes dias só tiverem tempo para ver um filme que seja o Florida Project

aqueles putos... dava um oscar a cada um. são tão genuínos, criativos, resilientes e vivos. dava outro oscar ao Sean Baker, por mais uma vez nos trazer uma obra tão realista, sem recorrer ao drama excessivo, deixando que as histórias se contem por si.


 


[r.nashe]

mas

mas é pai. e pai é pai.
mas é mãe. e mãe é mãe.

nestas afirmações parece estar contido que todo o nascer de é ser cuidado por. naturalmente inerente ao processo de criação, o desvelo. com sorte, altruísta. mas só encerram em si o desejo que assim seja. que no prolongamento das palavras se torne verdade, que a vida seja harmoniosa em família. e uma confrontação que a semântica sem magia pode ser profundamente dolorosa. pai, não é pai e mãe, não é mãe. esquecendo a biologia, mas a relembrar que precisamos de identidade, de raízes. que nos construímos também com essas referências. e se elas existem completamente deformadas?

o meu pai é a pessoa de quem menos gosto na família. há mágoa, assim como há desejo que mude (como as compreendo). há, também, alguma aceitação por soma de tantas desilusões. à mãe, neste caso, cabe-lhe ser a mãe é mãe, no seu todo, ainda que ela própria também ande à procura da sua identidade e questionando quantas vezes conseguimos criar novas raízes e firmar porto seguro?




quase todas as manhãs, a caminho do trabalho, cruzo-me com uma senhora dos seus setenta anos. cara simpática e doce, cabelo arranjado, costas direitas, roupa colorida e o seu carrinho de compras. àquela hora já vem da praça, levando consigo legumes e frutas frescas da época que utilizará nas refeições do dia, sem precisar de guardar nada no frigorífico. imagino-a a cozinhar com prazer, sem a urgência de horários a cumprir que não seja o da sua ida diária à praça. imagino-a. nunca troquei uma palavra com ela, não sei como se chama, não sei onde vive, com quem vive, como vive. quem sabe quando entra por casa encontra o tormento e a ida à praça seja a sua pausa. ou a sua obrigação ditada por outros. não o creio pelo ar que tem. mas é o meu olhar, que pode ser apenas nada.

numa semana soube de duas histórias cruéis sobre duas crianças de seis anos, com as quais também me cruzo quase todos os dias.vejo-as uns dias aos saltos, outros dias em birra, outros dias com sono, outros dias. a uma delas foi dada à custódia total à mãe depois de se descobrir que o pai via pornografia e se masturbava à frente dela. a outra levou um enxerto de porrada da mãe, que incluiu ser pontapeada, num fim de tarde à porta da escola.

hoje conheci uma mulher que dormia - salvo seja - com um burgesso e a ameaça de uma arma. ali na almofada ao lado.

garanto que não ando à procura destas histórias. chegam-me aos ouvidos sem aviso e deixam-me cada vez mais sem capacidade de articular grande coisa. a dimensão de conhecer as  pessoas - estas pessoas -, de serem mais do que acontecimentos lidos ou ouvidos de alguém que conhece alguém, que conhece alguém, longínquo o suficiente para não criar uma ligação tão estreita.

preciso estar mais atenta com quem me cruzo sem conhecer e sem querer conhecer. um certo paliativo para intervalar o que conheço.

hoje voltei a sentir-me muito cansada.
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deixei a minha mais nova adormecer no sofá. agora mesmo, está deitada ao meu lado no sofá, num sono tranquilo. a mais velha está na cama dela, talvez tenha adormecido outra vez com um livro que acaba por deixar cair e amanhã vá novamente refilar porque não marcou a página. vou lá dar-lhe um beijo daqui a pouco.

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na segunda-feira talvez tente fotografar a minha velhota do carrinho de compras.
na segunda-feita talvez contacte a cpcj.
até segunda-feira não quero que me contem mais histórias. só as estórias da viagem à lua da minha mais nova e as bds de colagens da minha mais velha. ali pelo meio talvez encaixe um filme de ficção científica, do espaço e mais além, com naves intergaláticas, os bons e os maus, os assim-assim, talvez uma princesa-heroína.
but if I fall?
but if you fly?
but if I fall?

if you fall I'll be there
— the ground



a six-part series about becoming a mother




vi há pouco tempo estes vídeos, que deixaram alguns ecos. o maior é o espaço necessário para cada um de nós e a nossa definição, sem invasões que criem ruído naquilo que muitas vezes é já titânico. por outro lado, conhecer histórias que se assemelham, por pouco ou muito que seja, às nossas conforta-nos e afasta uma certa solidão que se sente nas nossas escolhas e consequências.

(voltei a tirar do armário a capa de super-o-que-for-preciso)

daquilo que mais se retira da história de Sísifo: o pedregulho. que é, assaz vezes, um calhau. de gente também, no seu substantivo.

uns mais evidentes, um descanso para as expectativas. hélas, que ainda assim não retira os danos.


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diria que os homens que agora se sentem acossados e argumentam medos injustiçados em flirts e galanteios já antes não eram grande merda. a diferença é que agora (espero que cada vez mais ) sejam mais merdosos, medrosos e fiquem de bico calado. e mãos quietas.

aos outros nada é preciso dizer. já o sabem.
*

untitled

acho que gosto demasiado do Joan Cornellà *